sábado, 22 de outubro de 2011

Fim do blog

Com muita tristeza, comunico que não mais escreverei neste blog. A razão da minha desistência é o baixíssimo número de visitas a ele, que geralmente só aconteciam quando eu o divulgava no Twitter. O cadastro no google não ajudou muito, uma vez que há centenas, milhares, talvez milhões de sites sobre cinema lá e esperar que o meu fosse um dos primeiros a aparecer nas pesquisas seria sonhar demais. Há quem goste de escrever para si próprio. Não é o meu caso. Sem leitores, não vejo razão para continuar...

domingo, 2 de outubro de 2011

História de O (Histoire d’O – 1975)


(Esta crítica contém relevações sobre o roteiro do filme)

É sempre frustrante assistir a um filme que deturpa a obra original. Infelizmente, é o que acontece nesta adaptação da História de O.

O livro “História de O”, que deu base ao filme, foi escrito por Anne Desclos, que na época (1954) usou o pseudônimo Pauline Réage. Ele conta a história da personagem “O”, uma mulher, cuja origem não é explicada, que se entrega aos desejos sádicos de seu amante René. O é levada a um castelo em Paris, onde  é prostituída e submetida a torturas sadomasoquistas. Seu amante lhe diz que o fato de ele a entregar a outros homens era a prova de que ela lhe pertencia, pois só se pode dar o que se realmente possui. O detalhe intrigante é que O consente com tudo o que lhe fazem, nada lhe é forçado. Ela, de fato, deseja sentir-se propriedade de seu amante e satisfaz-se com a violência que sofre. Posteriormente, René a “dá” a um amigo, Sir Stephen. Este a marca com ferro em brasa como sua propriedade e, sendo mais duro e dominante, consolida sua “escravidão”.

Pelo pequeno resumo que fiz, já deu para percebeu porque a autora usou um psedônimo. Não é, realmente, o tipo de livro que você dá de presente a um amigo ou o tipo de filme que você vai ver exibido no horário nobre da televisão.

Há, todavia, uma diferença substancial entre o livro e a adaptação que aqui comento. No primeiro, O, que embora acreditasse que a submissão consolidaria o amor de seu amante, vai cada vez mais se tornando desinteressante a este. Há duas versões para o final da história, tendo sido ambas suprimidas do livro original. Na primeira, O é levada novamente ao castelo em Paris, onde é abandonada por Sir Stephen. Na segunda, O percebe que será abandonada e prefere morrer, o que é consentido por Sir Stephen. A lógica parece ser a máxima de Masoch: “aquele que se deixa açoitar merece os açoites”. O, após completamente consumida, torna-se desinteressante aos seus “proprietários”, agora obcecados por Jacqueline, sua colega de trabalho.

Esse sentido do livro é totalmente deturpado pelo filme. Neste, O também se satisfaz em ocupar o polo ativo da relação de poder e seus “proprietários” preparam alguém para ser sua “propriedade” (Jacqueline). O final de O é feliz. Ela conquista o amor de Sir Stephen e até mesmo se equipara a ele na relação, na medida em que passa a lhe infligir dor.

Resta se perguntar qual é a razão de tal deturpação. Penso que talvez os produtores pretenderam tornar mais comercial o roteiro, aliviando o final trágico e fazendo aparecer uma relação de amor que não existia. De qualquer forma, a deliberada alteração do sentido do texto é lamentável. A ideia principal do livro foi banalizada em algo mais inteligível ao público.

Se você não conhece o livro, pode encontrar algo de interessante no filme. Se conhece, o filme irá, certamente, lhe desagradar.

sábado, 24 de setembro de 2011

Tron - O Legado (Tron Legacy - 2010)


Estética é conteúdo

Tron é um filme peculiar. Considero-o muito bom, mas não pelos motivos que usualmente me levam a gostar de um filme. Vou me abster da sinopse e da história da produção (que tenta dar uma sequência – felizmente não se trata de um remake - ao Tron original) e sigo direto ao ponto.

O que Tron tem de especial?

Será o roteiro? Não. A história é para lá de banal, se se considerar globalmente a mensagem passada. O protagonista Sam é um personagem cliché: um jovem rebelde, ressentido por ter sido “abandonado” pelo pai quando criança, que, muitos anos mais tarde, reencontra seu progenitor e descobre que o abandono não foi voluntário. Tenta, então, ajudar o pai a se livrar dos obstáculos que o impedem de voltar para casa.

Serão os efeitos especiais?  Creio que não. É indiscutível que Tron é bastante caprichado neste aspecto. O filme traz, inclusive, uma tecnologia inovadora para contracenar atores reais com figuras digitais. Mas efeitos especiais por si só não sustentam um filme. 

Serão as atuações? Também não, pois apesar das presenças marcantes de Michael Scheen (Zuse, o dono do boteco), Olivia Wilde (Quorra, a garota do latex sensual) e do duplo personagem de Jeff Bridges (Kevin Flynn e Clu), o roteiro não ajuda muito. Vale constar que a atuação de Garret Hedlund como Sam, que protagoniza a história, é, digamos, pouco inspirada.

O que será então? A estética. Tron - O Legado, assim como seu original da década de 80, traz uma estética que chama muito a atenção. A história se passa dentro do computador. Os personagens humanos interagem com formas antropomórficas de programas. Os atores vestem roupas com linhas fluorescentes e o néon está espalhado por todo lugar. Os cabelos, as maquiagens, as cores do cenário, entre outros elementos, estão todos conectados com o ambiente sci-fi que envolve a história. A estética fala por si só. E não precisa falar muito, pois o pouco que ela fala se completa com o significado que o próprio expectador dá a essa estética. Como isso é algo que depende muito da subjetividade do próprio expectador, a estética de Tron certamente agrada uns e desagrada outros e o filme segue sua sorte. Mas, de qualquer forma, ela supre a carência do roteiro fraco.

Apesar de alguns sempre buscarem desvincular a estética do conteúdo, a estética é conteúdo, como se pode ver em Tron.

Acrescento, ainda, que a trilha sonora do filme é muito boa. Foi realizada pela dupla Daft Punk, que faz até uma pequena participação na película. Sem dúvida, não foi por acaso que esses dois franceses ficaram encarregados da trilha sonora, pois a estética que eles próprios adotam em suas apresentações é bastante similar com a dos personagens de Tron. 

Recomendo o filme.

domingo, 18 de setembro de 2011

O Enigma de Kaspar Hauser ( Jeder für sich und Gott gegen alle – 1974)


O filme se baseia na história verídica de Kaspar Hauser, um rapaz de origem misteriosa que, numa manhã de 1828, aparece numa praça de Nuremberg carregando uma carta dirigida ao capitão da cidade. Esta carta informava que o garoto havia sido criado isolado em um porão praticamente sem ter tido contato com outros seres humanos.  Hauser só sabia pronunciar algumas palavras e mal conseguia ficar de pé. Em 1833, foi assassinado por razões tão misteriosas quanto a sua origem.

O caso Kaspar Hauser, na vida real, chamou muita atenção na época e nos anos seguintes, já que se tratava da história de uma pessoa que cresceu fora de qualquer convívio social. Foi estudado tanto por psiquiatras quanto especialistas de outras áreas, até mesmo juristas. No filme, o diretor preferiu abordar apenas alguns aspectos da biografia. Seu foco principal foi o contraste de Kaspar Hauser com as instituições sociais.

O isolamento do rapaz em seus primeiros anos de vida fez com que ele tivesse grandes dificuldades em compreender muitas das convenções sociais. Por exemplo, a lógica matemática lhe era estranha e a ideia de Deus lhe era absurda. Hauser tinha também dificuldades em compreender alguns elementos de realidade, como a noção de tamanho em perspectiva (uma torre grande observada de longe lhe parecia menor que uma pequena torre observada de perto) e a diferença entre sonho e realidade. 

A sociedade que lhe acolheu, se por um lado lhe tentou ajudar, por outro tentou constantemente enquadrar-lhe nas já conhecidas formas de inteligibilidade. O fracasso de Hauser na tentativa de adaptação social é interpretado por essa sociedade como um elemento de anormalidade (o que fica explícito na cena final). O diretor apresenta uma abordagem crítica, ao deixar nas entrelinhas que a patologização do rapaz foi uma forma de defesa que essa sociedade arranjou para esquivar-se da autocrítica. Hauser, e sua falta de socialização, roubava muitas certezas que a sociedade tinha de si mesma.

Creio que se trata de uma biografia bastante interessante, pois coloca em questão muitas das pretensas naturalidades que enxergamos em coisas que são fruto de relações sociais e, portanto, inventadas. Particularmente, não acredito em qualquer discurso de natureza humana, já que tudo o que sabemos sobre nós é o que dizemos sobre nós mesmos, e tudo o que dizemos sobre nós mesmos tem prazo de validade - nossa autocompreensão sempre evolui (o que não quer dizer que progrida).

Na minha opinião, o filme é muito bom. Vale a pena conhecer a história de Kaspar Hauser.

domingo, 11 de setembro de 2011

Meia noite em Paris (Midnight in Paris - 2011)



Este filme tem sido muito elogiado pela crítica e apontado como um grande “retorno” de Woody Allen. Seguindo a proposta deste blog, não insistirei nos elogios – ressalto, apenas, que o filme é ótimo -. Ater-me-ei a somente alguns aspectos.

Interessante observar o papel que a arte ocupa na visão do diretor. Há na história um contraste entre Paul, o professor que quer se exibir com o conhecimento sobre história da arte, e Gil, o escritor que busca vivenciar a arte para, através dela, sublimar, e com essa experiência terminar o livro que está escrevendo. Paul é o clássico Pimba (pseudo-intelectual metido a besta): quer ostentar a arte, mostrando conhecimentos (que, no fundo, são apenas curiosidades sobre as obras que está analisando) com a intenção se pintar culto. Fazendo isso, Paul fisga Inez, a noiva de Gil, que deslumbra-se com a aparência de cultura (“ele é romântico e fala francês”). Gil, por outro lado, não está preocupado em parecer culto, mas em efetivamente vivenciar a arte, a fim de encontrar nela um sentido para a existência (é o que leio nas entrelinhas do filme). O escritor entra em êxtase quando, na fantasia da história, encontra vários artistas do início do século passado e com eles discute algumas percepções próprias da vida.

A questão “para que serve a arte” é, sem dúvida, muito difícil e não arriscarei escrever muitas linhas sobre isso. Agrada-me bastante a perspectiva que Woody Allen passa neste filme: a arte não é um remédio milagroso, mas pode ajudar a lidar melhor com as dificuldades da vida, especialmente aquelas que dizem respeito ao sentido da existência. Talvez seja bom enfatizar isso, uma vez que vivemos numa época em que a arte é constantemente transformada em mercadoria para consumo e com isso perde seu potencial de sublimação (e deixa de ser arte).

Outro ponto relevante do filme é a relação Gil/Inez. Fica claro que Gil não deveria estar com Inez, não só porque ela está encantada com outra pessoa, mas porque é incapaz de perceber as qualidades e os conflitos de seu noivo. Ela está tão demasiadamente preocupada com o que parece arte ou o que parece belo que não tem olhos nem paciência para o convite de seu noivo para embarcar na metáfora da carruagem que leva a um outro mundo. Isso é simbolizado em duas cenas: aquela em que Inez se cansa de esperar pelo que Gil promete na escadaria e aquela em que Inez não aceita o convite para caminhar na chuva. O choque entre os dois é tão explícito que quase soa exagerado.

Gil está em plena fase de amadurecimento e percebe logo que Inez apenas lhe castra. O protagonista não hesita em deixá-la e segue seu rumo na estrada do autoconhecimento. Ele já em seguida se interessa por uma garota que sutilmente potencializa seus anseios – o que é simbolizado pela cena em que ela aceita o convite para caminhar na chuva.

É um filme que vale a pena assistir.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Na natureza selvagem (Into the wild - 2007)


Quando se escreve uma biografia, é comum que se tome uma dessas duas direções: ou a apologista ou a crítica. Na apologista, cria-se um herói. Na crítica, desconstrói-se um ídolo ou expõe-se seus defeitos. Em Na natureza selvagem, o livro e o filme parecem ter tomado rumos distintos.

No filme, vemos uma obra claramente apologista. Christopher McCandless é um herói que, cansado das hipocrisias da sociedade, decide viver uma experiência solitária, criando para si mesmo um desafio de sobrevivência, que o aproximaria de sua real natureza. Tenho certeza de que os elogios recebidos pela película foram merecidos. Mas há que se ressaltar que ela apenas aborda um lado do protagonista e ignora muitas reflexões interessantes trazidas pelo livro.

 proposta da versão escrita parece ser diferente mesmo. Jon Krakauer não está preocupado em criar um herói, mas em dialogar com a história do rapaz que fez uma viagem sem volta ao Alasca. O Christopher McCandless que conhecemos tem muitas qualidades como algumas que vemos no filme. Todavia, também muitos defeitos, como um lado místico obscuro, uma certa arrogância, hábitos esquisitos, uma personalidade difícil, entre outros. O autor do livro compara a história de McCandeless com a de outros que fizeram coisas parecidas (sim, tentar passar algum tempo vivendo isolado no Alasca e não conseguir é praxe). O ponto crucial é, a meu ver, a comparação com a própria história – Krakauer fez algo semelhante e sobreviveu.

Apesar deste texto ser uma crítica ao filme, vou destacar um tema que foi negligenciado no cinema: a tentativa de compreensão das razões de McCandless. O que levou o garoto a tal ousadia?  Krakauer, como já mencionei, teve seu momento McCandless, mas com a sorte de sobreviver. Ele escalou sozinho certa montanha e fazendo isso quase morreu. Após retornar, foi a um bar numa cidade próxima e contou sua façanha. A reação foi surpreendente: as pessoas não duvidaram dele, mas simplesmente não deram importância. Ele frustrou-se, confessa, pois esperava, inconscientemente, ser considerado especial, importante, pela proeza. Mas o que era importante para ele, o que era uma prova para ele, não era para os outros. Kraukauer se pergunta: terá tido McCandless motivação semelhante? O autor do livro quer refutar a ideia de que o jovem aventureiro era um suicida, como pensavam muitos no Alasca (“mais um idiota que veio morrer aqui”).

Compreender aos outros é uma tarefa muito difícil. Mal compreendemos a nós mesmos. Mas o diálogo é possível. Sabemos que, no fim das contas, McCandeless nunca deixou de pensar na sociedade da qual se isolou. Ele escreveu seu bordão famoso “a verdadeira felicidade é a compartilhada” talvez se surpreendendo com sua solidão, e antes de morrer tentou nos convencer de que foi uma pessoa feliz. Ele poderia ter sobrevivido se tivesse levado um mapa do local, mas preferiu desenhar um próprio – erro que o levou a pensar que estava preso, quando na verdade havia uma saída fácil. Se tivesse sobrevivido, McCandless seria hoje Kraukauer?

Vale a pena ver o filme. Contudo, para uma visão mais ponderada, o livro deve ser lido também.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

500 dias com ela (500 days of Summer - 2009)


A história de uma desilusão amorosa


(Esta crítica contém revelações sobre o enredo do filme)

Talvez seja correto dizer que Hollywood contribuiu substancialmente para a consolidação da noção de amor romântico que figurou no imaginário popular durante grande parte do século passado. Foram várias as gerações que cresceram acreditando que o destino lhes guardaria uma alma gêmea, com quem viveriam felizes para sempre. Mas as relações sociais se modificaram e o amor romântico, nos moldes do início do Século XX, entrou em crise. Se isso é verdade, então talvez possamos dizer que 500 dias com ela é um antídoto que Hollywood produz contra seus próprios velhos filmes românticos.

O filme, que ora é classificado erroneamente como comédia romântica, pode pegar de surpresa os casais que o locarem esperando serem enganados (me engana que eu gosto) com a ideia de que o amor, quando verdadeiro, supera todos os obstáculos. 500 dias com ela, como o próprio filme adverte, não é uma história de amor, mas uma história sobre o amor. Especificamente, uma história de uma desilusão amorosa.

Trata-se da história de Tom Hansem, um ingênuo funcionário de uma empresa de fabricação de cartões com mensagens afetivas, que se apaixona perdidamente por Summer Finn, uma colega de trabalho. O filme, sem seguir uma cronologia linear, conta os 500 dias desde quando Tom vê Summer pela primeira vez. Na primeira parte, somos levados a acreditar que se trata de uma história de amor clichê. Ficamos sabendo como Tom se aproxima de sua amada, que os dias com ela foram felizes e que em determinado momento ela termina a relação de forma súbita, abalando profundamente o rapaz. Há um futuro reencontro inesperado entre os dois, e temos indícios para acreditar que sua relação continuará. Da segunda metade em diante, o filme se revela trágico e angustiante. Descobrimos que o amor dos dois não terá sequência e o que se segue é o processo de amadurecimento de Tom, agora obrigado a lidar com uma situação de amor perdido. O dia de número 500 é aquele em que Tom “esquece” definitivamente Summer.

A história é narrada com a perspectiva de Tom. Este se apresenta como um homem que acredita na infalibilidade do amor. Ao conhecer Summer, Tom acredita que ela é sua alma gêmea e a única pessoa capaz de lhe fazer feliz. Da garota, pouco ficamos sabendo, uma vez que só temos acesso a ela pela visão do protagonista. Podemos perceber que ela é uma moça que só procura relações casuais e que afirma não acreditar em grandes histórias de amor. Ela diz a Tom que gosta dele mas não quer nada sério e ele, temendo perdê-la, deixa-a conduzindo a relação. Num certo momento, a garota termina o relacionamento e a partir daí o rapaz fica paralisado. A dificuldade da superação faz com que ele tenha problemas no trabalho e não consiga iniciar novas relações com outras pessoas. Num momento futuro, o protagonista reencontra sua amada e vive com ela um novo dia agradável. Summer convida Tom para uma festa em sua casa. O rapaz vai com grandes expectativas, mas lá percebe que sua perda é definitiva: a garota está noiva de outro. Depois disso ele até tenta sair com outras pessoas, mas ainda está demasiado preso a seu amor não correspondido. Até que sua irmã [uma míuda (pirralha, para os brasileiros) de 12 ou 13 anos] lhe ajuda a perceber, finalmente, o quanto ele havia idealizado a garota. O restante do filme é o desenvolvimento do amadurecimento de Tom, que se reinventa definitivamente e dá novo rumo a sua vida.

A questão central do filme, a meu ver, é o amadurecimento de Tom, que passa de uma noção muito fantasiosa de amor até que o encara por vez de forma realista. Percebemos que Tom esteve tão mergulhado no próprio narcisismo que só enxergava o que queria ver. Durante seu relacionamento com Summer, ele não estava de fato em sintonia com ela, não queria realmente saber dela. Tom queria enxergar em Summer a garota perfeita que ele idealizou, e mesmo depois do término da relação, suas lembranças eram sempre dos bons momentos – aqueles em que a Summer real parecia a Summer idealizada. No entanto, para a garota, o relacionamento dos dois não havia sido tão bom como para ele – ela não estava tão envolvida e incomodava-se com os conflitos, para ele pequenos.  Ainda, para o azar de Tom, Summer se mostrava um pouco insensível e talvez indiferente, dizendo a ele coisas que apaixonados não podem ouvir e por vezes fomentando uma paixão que ela sabia que não seria correspondida.

A ascensão de Tom ocorre quando ele percebe que, de tão vidrado que estava nesse ideal, não conseguia perceber bem o mundo a sua volta, seja pela dificuldade de compreensão dos conflitos de Summer durante o relacionamento, seja pela negação da ideia de que ele poderia amar e ser amado por outras pessoas. No final, ele se abre, enfim, para o mundo, e deixa para trás a Summer de seus sonhos.

O filme é, na minha opinião, excelente, uma vez que aborda com sinceridade o tema da desilusão amorosa.